terça-feira, 20 de dezembro de 2011

E se hoje fosse o seu último dia?

Ele saiu de casa de manhã, como todos os outros dias do ano. Estava com a mesma roupa de uma semana atrás, sua camisa repetida tinha cheiro de sabão e amaciante… A cada passo que dava se lembrava de alguém que tinha deixado pra trás, a cada esquina que virava do seu caminho a muito decorado ele se lembrava de algum sonho que tinha deixado passar… Sorrisos que deixou de dar, momentos que não viveu e músicas que nunca aprendeu, coisas que ocupavam sua mente aquela manhã e ele não entendia o por que. Os conselhos de sua mãe, vozes de seus amigos ecoavam em sua mente, fotografias e viagens. Trabalhos da faculdade, seus amigos da escola, seu chefe mais odiado. Chances de falar o que sentia e foram desperdiçadas… Ele finalmente entendeu que ninguém nunca vive duas vezes, que ninguém consegue reviver momentos da vida, que o passado não volta e que não deveria ter dado tanta importância a pequenos desentendimentos. Percebeu que prendeu pessoas que deveria ter deixado ir, que perdeu seu tempo com elas e acabou soltando quem deveria ter pedido pra ficar. De repente ele não estava mais no seu caminho, suas pernas haviam o guiado pra longe, distante do seu trabalho, longe da sua casa, do outro lado da cidade. Passou muito tempo sentado em um gramado que não sabia a quem pertencia, não se importava… Nada importa muito quando toda a sua vida e coisas que desperdiçou estão passando em sua mente como um filme. Seu coração batia fraco, como se soubesse que algo estava acontecendo, como se estivesse sintonizado em alguma frequência que o comunicava do mundo exterior enquanto o próprio homem estava imerso em seus pensamentos… Onde estariam todos aqueles que ele jurou nunca deixar? Para que serviram tantas promessas, por que tanto tempo perdido em conversas se tão pouco foi feito? Como estaria vivendo aquele seu primeiro amor, aquela garota que conheceu na quarta série? Será que alguém ainda se lembrava do motivo da discussão que o separou de seu grande amigo? Perguntas assim, irrespondíveis vagavam em sua mente enquanto o dia se esvaía, seu celular fora desligado e a camisa já estava amarrotada, seus sapatos pareciam pequenos para seus pés, algo ali o incomodava… Então ele recordou de seus antigos gostos, aqueles dos quais sempre teve orgulho, lembrou de seus antigos tênis e dos CD’s que costumava ouvir. Pensou nas garotas que magoou, nas vezes que decepcionou quem acreditava nele, nas vezes que as pessoas o decepcionaram. A luz do dia já não servia mais para seus olhos acharem o caminho, suas pernas então tomara o controle e ele permanecia imerso em seu passado. Todas as cartas que escreveu, todos os drinques que bebeu, e todas as notas que deixou por ai. Cada pedaço minúsculo de sua vida insistia em passar por seus olhos enquanto o mundo entrava em caos a sua volta. Quando a noite caiu por completo as lembranças daquilo que fez valer a pena começaram a passar… as pessoas que fez sorrir, os casacos que doou, aquele sapato que tirou no meio da rua e entregou a um homem sentado na calçada. A garota com quem vivia, os presentes da natal e cada doce da sua avó… O show de garagem que fez com sua banda, onde estariam os outros integrantes agora? Essa parte durou pouco, alguns minutos talvez… Depois de um dia de topor ele finalmente voltou a si, estava confuso e não entendia por que daquele dia. Estava nervoso, perdeu um dia de trabalho e quando parou para olhar, percebeu que estava no bar que costumava tocar antigamente. A televisão ligada no jornal chamou sua atenção, passava uma notícia do prédio onde ele trabalhava, seu coração que ainda trabalhava devagar começou a bater mais forte a cada palavra que a jornalista dizia. Em alguns segundos ele estava no portão de sua casa, suado e respirando com dificuldade… Abriu o portão e atravessou a porta como se fosse seu último segundo de vida. Abraçou sua garota, como nunca antes, a beijou e ficou ali, sentado por horas no sofá, chorando com ela em seus braços.
Aquela era a noite de 11 de setembro de 2001; Ele trabalhava em um das torres do World Trade Center. Podem imaginar o que ele viu no jornal não é?
Nem sempre a vida nos dá segundas chances, então me responda…
E se hoje fosse o seu último dia de vida?

Um comentário:

  1. *-* meu deus, esse foi o melhor texto que eu ja li. WOW, carol, voce tem MUITO talento, fiquei de cara cpm isso, tipo, cada palavra que você usou, cada expressão formada, todas super planejadas que mostraram sinseridade, amor por escrever. Tipo, WTF, acho que eu bou matar voce antes que voce lance um livro, só assim eu acabava com a concorrência, definitivamente. Eu AMEI, de coração,tipo, aindo to apaixonado por cada virgula que você escreveu. Tipo, perfeito!

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