De manhã seu celular tocava, ela atendia e esperava alguns segundos, a única coisa que ela conseguia ouvir era uma voz esganiçada que dizia “Smile”uma vez por ligação. Já tinha até mesmo se acostumado, todos os dias, naquela mesma hora e o mesmo número. Algumas vezes deixou de atender, algumas vezes estava dormindo, na verdade na maior parte ela atendia, ficava ouvindo por uns 10 segundos e depois o estranho desligava. Porém nunca teve medo, algo naquilo lhe passava confiança; toda vez que ele a ligava, ela colocava um sorriso no rosto e ali ele ficava até que ela adormecesse.
Dias e dias se passaram, sua vida mudou; Antes garota que dançava como louca e dava risadas altas sem nem se importar com o que as pessoas pensavam dela, agora era quieta. Estava mais magra, não gostava mais de música. Seus milhões de motivos para ser feliz, pareceram sumir como vapor e os que lhe restaram não era fortes o bastante para lhe iluminar a escuridão que tomou seu peito.
Onde estavam seus amigos? O único que lhe sobrara estava namorando, uma garota que claramente não gostava dela. Seus problemas estavam além da realidade, ela agora tinha medo da própria mente, medo dos próprios pensamentos. Parou de obedecer as ligações, ficava com raiva toda vez que as recebia, gritava e depois de alguns segundos se recompunha e pedia desculpas ao aparelho, mesmo sabendo que ele não podia mais ouvi-la.
Nunca falava... talvez por isso as coisas parecessem muito maiores e mais feias, ela não sabia mais como se sentir bem. Mas sabe, ela era forte, muito mais forte do que ela mesma podia imaginar.
Uma manhã ela acordou com o toque do celular, aquilo era uma coisa a qual ela se apegara... mesmo com todas as mudanças, seu celular continuava a tocar, sempre na mesma hora, sempre com a mesma mensagem. Ela atendeu, ouviu a palavra. Mas antes que ele pudesse desligar ela começou a falar, falou tudo o que estava guardado em seu peito, falou por horas, ou minutos, nunca saberemos. Ela chorou, gritou, e quando finalmente terminou o monólogo desesperado, o estranho repetiu “Smile”.
Finalmente ela entendeu o que ele queria dizer com aquilo, ele não estava mandando que ela fosse feliz, ou insinuando que seus problemas não fossem o suficiente para fazê-la ficar triste. Não era uma ordem, era um pedido. Ele pedia para que ela sorrisse, por que apesar de tudo o que ela sentia, apesar de tudo o que estava passando e de se sentir sozinha, uma hora ia acabar, e tudo o que ele podia fazer por ela, era pedir que sorrisse. Por que ele sabia, que essa era a sua maior fortuna. Seu sorriso.
A garota nunca soube quem era esse misterioso estranho, por que por mais que ela retornasse as ligações, o número não existia. Então ela simplesmente ouvia, sorria e seguia em frente.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
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